quinta-feira, 29 de maio de 2014

0 Série - CORPO HUMANO (part. 1)

Quando algo no esqueleto doí


Poucos sintomas atormentam tanta gente quanto às dores nos ossos e articulações. Elas resultam de esforços repetitivos, posturas erradas e tensão; da falta de exercícios físicos e do excesso de peso. Quem quiser evitar danos permanentes, deve se prevenir com antecedência. Veja as quatro "regiões críticas" mais importantes: coluna cervical e lombar, articulações coxofemoral e dos joelhos. Em uma série de 4 (quatro) partes, não deixe de acompanhar.
Coluna cervical

A coluna cervical é a parte de maior mobilidade do eixo central do corpo humano. Entretanto, nessa região os nervos raquidianos: saem da medula espinhal e são responsáveis pelos braços, a cabeça e o tronco. Estão muito próximos do entrelaçamento dos neurônios do sistema nervoso vegetativo e das artérias vertebrais que irrigam o cérebro.





Músculos contraídos


Mulheres são afetadas por dores na nuca com maior freqüência - e mais cedo na vida-do que os homens.  Isso acontece porque geralmente, elas exercem profissões que exigem uma postura que não é natural: por exemplo, sentadas à escrivaninha, diante do computador, ou na operação de máquinas industriais. O constante movimento para cima e para baixo da cabeça contrai os músculos trapézios, em forma de leque, que unem entre si a parte traseira da cabeça, as vértebras cervicais, as clavículas e as omoplatas. O tônus muscular mais elevado provoca dores que se irradiam até os braços, a cabeça e o esterno. Essas contrações são chamadas de "síndrome cervical local". 

Quando nervos raquidianos comprimidos são a origem das dores, fala-se de "síndrome cérvico-braquial". As causas podem ser uma arqueadura para frente do anel fibroso do disco intervertebral, ou uma nova formação de matéria óssea nas bordas das extensões vertebrais cervicais, parecidas com ganchos. De acordo com a ramificação nervosa que está sendo comprimida, as dores se irradiam. Mas a pessoa afetada também pode sentir formigamentos e falta de sensibilidade até os dedos.

Quando as artérias vertebrais ou o canal raquidiano são pressionados, ocorrem fortes crises de dores de cabeça, parecidas com enxaquecas, acompanhadas de sensações de tontura, zumbidos (tinnitus), além de perturbações visuais e de deglutição. Mas, ao contrário da verdadeira enxaqueca, nesses casos a intensidade da dor depende da postura da cabeça.

Colar de Glisson
Síndromes cervicais e dores nos ombros são tratadas inicialmente de modo conservativo, com aplicação de calor (banho quente, bolsa de água quente, um xale de lã) e medicamentos (analgésicos e relaxantes musculares, além de produtos contra inchaços). Isso dá um alívio temporário no estado de irritação local, alivia a vértebra afetada e relaxa a musculatura contraída. A pressão também pode ser aliviada por meio da tração manual da coluna cervical, ou com a ajuda do chamado "colar de Glisson ou colar cervical" , aplicados por fisioterapeutas ou médicos. Massagens são recomendadas apenas quando a fase mais aguda da dor já cedeu. Na Quiropraxia, são permitidas suaves manipulações de extensão, enquanto a manipulação da espinha cervical, que envolve uma enérgica torção do pescoço, deve ser evitada a todo custo. A acupuntura pode tirar as dores.

Quando as dores são agudas, em geral injeções ajudam: raízes nervosas irritadas são acalmadas com anestésicos de efeito local; inflamações são reduzidas com soluções esteróides de cloreto de sódio. Mas nesses casos, é particularmente importante que a agulha seja introduzida corretamente, uma vez que, em situações raras, podem ocorrer lesões da pleura ou até um colapso pulmonar.

Síndrome do chicote
Os médicos tornaram-se mais cautelosos em relação a cirurgias da coluna cervical. Às vezes, elas são necessárias após acidentes ("síndrome do chicote"). Em todo o caso, elas são indicadas apenas quando as dores são insuportáveis, e quando há o surgimento de paralisias (após um prolapso do disco intervertebral) ou a ameaça de danos duradouros na medula espinhal. Nesses casos existe o perigo de que veias e artérias vitais de irrigação possam ser interrompidas. Nas chamadas cirurgias de descompressão, protuberâncias ósseas resultantes da artrose são lixadas ou as vértebras são "amarradas" entre si para que sejam estabilizadas (é a chamada "fusão"). Para isso, cavilhas de ossos substituem discos intervertebrais. Mas esses tipos de intervenções estão bem no fim da lista das tentativas terapêuticas (ultima ratio, expressão latina que pode ser trazida por 'último argumento', 'última opção').


CONTINUA...

0 Sugestão de leitura

Evolução: o sentido da biologia


Explicar a vida e sua origem em nosso planeta é uma tarefa que sempre preocupou o ser humano, em todas as épocas. E  hoje a teoria evolucionista nos fornece uma visão mais coerente desse  processo que é a espinha dorsal da Biologia.

Nesse livro, o autor mostra como a biologia evolutiva surge ao longo dos séculos XIX e XX. Apresenta seus principais conceitos, o contexto cultural e social na qual está inserida. E delimita as fronteiras atuais da busca do conhecimento sobre a evolução e a diversidade da vida no nosso planeta. Tudo isso numa linguagem clara e instigante, que busca aproximar a teoria científica,  da realidade  simples do leitor.

Os autores procuram mostrar a importância da compreensão da biologia evolutiva nos ajuda a  desvendar – por exemplo - a origem da AIDS; como evitar mortes por infecção hospitalar e até entender o porquê dos enjôos durante a gravidez. Tudo isso com base numa visão de mundo que reconhece os seres vivos como resultado de um processo de mudança graduais e incorpora os debates que levam a uma constante renovação do pensamento científico.



Um livro da Série Evolução, da coleção paradidáticos, da editora UNESP e dos autores:
Charbel Niño El-Hani, docente do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia.
Diogo Meyer, docente do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.

0 Fatos marcantes do mundo nos clik's da GEO

De pernas para o ar em meio a montanhas


Um menino planta uma bananeira para impressionar um grupo de meninas que admiram sua acrobacia em um prado alpino no chamado "Corredor de Wakhan", na província de Badakhshan, no nordeste do Afeganistão. esta é uma das áreas mais pobres e remotas do país: grande parte da região, habitada principalmente por nômades, só é acessível a cavalo ou por meio de longas caminhadas que podem durar dias. O fotógrafo Jason P. Howe registrou a cena e inscreveu a foto no concurso "Foto do Ano da UNICeF", do qual se originam as imagens das duas primeiras páginas.

Negócio tóxico


Em Acra, a capital de Gana, na África, um garoto joga uma TV descartada no chão para conseguir tirar os componentes de metal de seu interior e vendê-los. Na favela local de "Sodoma e Gomorra" - nome baseado nas cidades bíblicas do pecado - o lixo eletrônico dos países industrializados é uma importante fonte de renda. Kai Löffelbein registrou a cena. Quando as crianças desmontam os aparelhos, derretendo uma parte e queimando a outra, elas entram em contato com substâncias tóxicas, como chumbo e selênio e seus vapores, sem nenhuma proteção.

No país da escassez 


Pequenos órfãos cantam na aula de música em uma creche na cidade de Hoju, na Coreia do Norte, fotografadas por Jürgen Escher. Graças à ajuda humanitária alimentar estrangeira, esses meninos e meninas têm o suficiente para comer. Muitas outras crianças nortecoreanas não passam tão bem, pois o país é assolado por uma terrível epidemia de fome: uma em cada três crianças com menos de cinco anos é cronicamente subnutrida. Sem a ajuda externa, a situação seria muito mais grave. A Coreia do Norte é governada por uma ditadura que isolou o país do resto do mundo.

Fenômenos polares



Cientistas desvendam os últimos enigmas da formação das luzes polares.


As luzes, ou auroras polares, brilham quase sempre, embora em geral sejam fracas demais para serem observadas a olho nu. Só ocasionalmente elas se transformam, em poucos segundos, naqueles espetaculares fenômenos luminosos que parecem cobrir o céu com "cortinas vaporosas de luz".

As luzes coloridas aparecem quando elétrons colidem com átomos e moléculas de gás na alta atmosfera. Os pesquisadores acreditavam já ter desvendado há tempos, de onde os "elétrons celestiais" tiravam a energia necessária para desenvolverem uma "velocidade turbinada": segundo sua teoria, com os elétrons e núcleos de hidrogênio que o formam, o chamado vento solar levaria o campo magnético do Sol até a Terra. Nesse processo, as linhas do campo magnético solar se conectariam às terrestres - no lado diurno do nosso planeta -, separando-se de novo a uma distância entre 100.000 e 200.000 quilômetros da Terra, para se unir novamente entre si. Essa interação libera energia em forma de "ondas de Alfvén", que aceleram a viagem dos elétrons do vento solar rumo à Terra, eletrizando as luzes polares até o ponto da visibilidade a olho nu.

Mas essa explicação apresentava um problema: de acordo com a teoria da Física, as ondas de Alfvén, que transportam as partículas do vento solar, são lentas demais. Para percorrer os 100 mil quilômetros mínimos, elas teriam de gastar cerca de quatro minutos desde o seu ponto de partida até a Terra - mas as medições mostraram que o "modo turbo" da luz polar já é acionado pouco menos de um minuto depois que as linhas do campo magnético se reconectam de novo.

Agora, cálculos simulados realizados por Michael Shay, da Universidade de Delaware, nos Estados Unidos, sugerem que, além das ondas de Alfvén "normais", provavelmente também se formam as chamadas "ondas cinéticas de Alfvén" (KAW, na sigla em alemão): elas transportam os elétrons muito mais rapidamente até a atmosfera terrestre do que as ondas de Alfvén comuns. Como em uma tempestade, primeiro o raio atinge a Terra e só depois se escuta o som do trovão.



Fonte (referência):

GEOSCÓPIO. 2012. Texto publicado na revista GEO. Disponível em: <http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/35/artigo255831-1.asp>. Acesso em: 12 ago. 2012.

1 Beleza incomparável (NATUREZA)

Quando o inverno termina, a natureza desperta mais bela do que tudo


Silenciosamente, as primeiras folhas e flores aparecem; pássaros, insetos e mamíferos saem de seus esconderijos. Entre a última neve e a profusão de cores do início do verão, a flora e a fauna da Europa passam por uma fantástica transformação.

Sujeitinho colorido 

Bombycilla garrulus
As cores vivas da plumagem dos picoteiros ou tagarelas (Bombycilla garrulus) brilham como arautos da primavera na natureza branca, ainda congelada, do fim do inverno. Em geral, essas aves permanecem em seus habitats nórdicos mesmo nos mais rigorosos invernos, mas se as bagas de sua principal fonte de alimentação - a sorveira (Sorbus aucuparia) - começarem a rarear, algumas populações migram para o sul. 

Exibição de força alpina

Capra ibex
No Parque Nacional Gran Paradiso, na Itália, três cabras-alpinas (Capra ibex) duelam para medir suas forças. Os troncudos machos chegam a pesar até 100 quilos e seus chifres podem alcançar um metro de comprimento. Enquanto na primavera as fêmeas e seus filhotes vivem em rebanhos de até vinte animais, os machos percorrem as montanhas isoladamente ou em pequenos grupos solitários.

Chocar e roubar

Acrocephalus
Na época de nidificação das aves em um ninho de uma toutinegra (Acrocephalus) – foi visto essa fêmea de cuco-canoro (Cuculus canorus) depositou seu ovinho no ninho estranho e, para compensar, roubou um ovo da toutinegra.

Beleza oculta

Saitis barbipes
Somente a macrofotografia revela a beleza desta aranha saltadora- de-patas-barbadas (Saitis barbipes): na vida real, essa criatura nativa da região do Mediterrâneo, mede apenas meio centímetro. A foto mostra esse machinho em meados de maio durante a higiene pessoal: o pequeno aracnídeo está limpando seu terceiro par de patas, mais longas, que usa para atrair fêmeas dispostas a se acasalar.

Sob controle 

Calopterygidae
Esta libélula da família Calopterygidae está depositando seus ovos em um pedaço de madeira submersa em um rio na Eslovênia. A fêmea acaba de se acasalar - o macho ainda paira no ar acima dela, pronto para repelir outros concorrentes.

Expedição de caça

Meles meles
Um texugo-europeu (Meles meles) perambula pela neblina matutina na montanha Schauinsland, perto de Freiburg, na Alemanha. Os tímidos mustelídeos constroem suas tocas na floresta, mas preferem prados e pastos como territórios de caça. Ali eles se alimentam de plantas, insetos e até ratos - mas suas presas favoritas são as minhocas-gigantes (Lumbricus badensis), endêmicas da região da Floresta Negra, no sudoeste da Alemanha, e que atingem até 60 centímetros de comprimento.

Leves como o ar 

Enallagma cyathigerum
 Os holandeses chamam as libelinhas-comuns ou cavalinhos-do-diabo (Enallagma cyathigerum) de "farejadores d'água", porque elas voam muito perto da água ao caçarem. A imagem apresenta os insetos em um pântano na Holanda.

Parnassius apollo
Quando o verão anuncia a chegada, das primeiras borboletas-apolo (Parnassius apollo) voam pelas montanhas da Europa.

Cores da luz

Gladiolus
Em abril, coloridos tapetes de flores cobrem as ilhas do Mediterrâneo. Aqui, uma gladíola-silvestre do gênero Gladiolus, na ilha de Minorca.

Orchis itálica
A orquídea-italiana (Orchis itálica) ocasionalmente já floresce em fevereiro. Na Inglaterra, a forma de sua flor lhe rendeu o apelido de "naked man orchid" ("orquídea homem nu").



Fonte (referência):

APÓS o frio. 2012. Publicado pela revista GEO. Disponível em: <http://revistageo.uol.com.br/cultura-expedicoes/35/artigo255838-1.as?>. Acesso em: 14 jul. 2012.

0 Grande descoberta no mundo microscópico

Pesquisadores utilizam as propriedades piezoelétricas do vírus bacteriófago M13 para produzir energia elétrica a partir da energia mecânica


Uma novidade recentemente descoberta por cientistas da universidade norte-americana de Berkeley e publicada na Nature Nanotechnology: eles conseguiram converter energia mecânica em energia elétrica a partir de um vírus inofensivo ao ser humano.

Os pesquisadores criaram um gerador capaz que produzir uma corrente necessária para iluminar um pequeno ecrã LCD, que funciona pressionando com o dedo um elétrodo do tamanho de um selo de correios. O botão a ser pressionado encontra-se coberto por uma fina camada de vírus que foram desenhados para conseguir esse efeito e que o mesmo converta a força aplicada em uma carga elétrica.

Trata-se de um primeiro gerador que produz eletricidade mediante o aproveitamento das propriedades piezoelétricas de um material biológico. A piezoeletricidade é a capacidade que um sólido tem de acumular cargas de energia elétrica como resposta a uma carga de energia mecânica (o que ocorre em um toca-discos).

No entanto, os cientistas afirmam que há necessidade de maiores observações. Mesmo assim, este trabalho é um grande passo para desenvolver geradores pessoais que poderão ser utilizados em nano-dispositivos dentre outros mecanismos que se baseiam na eletrônica de vírus, conclui Seung-Wuk Lee, cientista da Universidade de Berkeley, professor de Bioengenharia e diretor desta investigação.

VÍRUS M13


Os cientistas utilizaram o vírus bacteriófago M13, que costuma atacar somente as bactérias sendo assim, inofensivo ao ser humano. Lembrando que por ser um vírus o mesmo possui o tipo de reprodução assexuada - podem chegar a milhões em poucos instantes garantindo assim um fornecimento de propriedades constante. Sem contar na grande facilidade de manipulá-lo geneticamente.

Através de um campo elétrico em ação numa película de vírus M13 e observações feitas com um microscópio, os pesquisadores descobriram se o organismo era piezoelétrico. Nas observações puderam notar que as proteínas helicoidais - que envolvem os vírus - se retorciam e giravam, ocasionando um sinal do efeito piezoelétrico. Com isso, melhoraram esse sistema, ou seja, empilharam películas compostas de camadas individuais de vírus. Obtiveram assim, uma pilha de 20 camadas de espessura que apresentou um maior efeito piezoelétrico.

Feito isso, vendo o bom desempenho do estudo os cientistas criaram condições especificas para que os vírus já modificados geneticamente se organizassem sozinhos numa película de camadas múltiplas, que posteriormente se intercalaria entre dois eletrodos, conectados por um cabo a um ecrã LCD.

Quando foi aplicada a pressão sobre o gerador, produziram uma significante quantidade de energia elétrica chegando a um máximo de seis nano amperes de corrente e 400 milivolts de potência. Os investigadores não querem parar por aí: agora eles vão tentar melhorar esta técnica para obter grandes quantidades de energia. Esses vírus tão pequenininhos e tão surpreendentes...



Fonte (referência):

VÍRUS inofensivo pode gerar energia elétrica. 2012. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=54166&op=all>. Acesso em: 09 jun. 2012.

1 Genética comportamental

Estudos divulgado pelo CISA revela que fatores genéticos podem influenciar no consumo nocivo de álcool


A hereditariedade para o comportamento de beber, bem como para o abuso e a dependência, é complexa e indica o envolvimento de múltiplos genes, cada um contribuindo para aspectos distintos. A base genética relacionada a este comportamento, em humanos, ainda é pouco conhecida, apesar de sua importância clínica e social.

As diferenças no consumo de bebidas alcoólicas são um reflexo da grande variabilidade do estilo de vida, comportamento e normas sociais que influenciam o ato de beber. Além disso, cerca de 40% dos riscos de desenvolver um transtorno relacionado ao uso de álcool (abuso ou dependência) podem ser explicados pela genética. Sabe-se também que a influência dos fatores genéticos sobre o uso de álcool aumenta gradualmente à medida que os indivíduos envelhecem.

imagem Com base nesse contexto, pesquisadores buscaram identificar os mecanismos genéticos associados ao consumo de álcool. O estudo, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences divulgado pelo CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool, analisou a associação entre o genoma de 26.316 pessoas, provenientes de 12 populações de descendência européia, e o consumo individual de álcool (gramas por dia e peso corporal). A mesma análise foi replicada em outros 21.607 consumidores de bebida alcoólica.

Os resultados apontam que o gene AUTS2 esteve significativamente associado ao consumo de álcool.  Dos dois alelos – versões ou formas alternativas do mesmo gene – do AUTS2, um é três vezes mais comum do que o outro, sendo que os indivíduos com a forma menos comum bebem em média 5,5% menos álcool do que as pessoas com a forma mais comum. O AUTS2 foi localizado no córtex pré-frontal de 96 amostras humanas (post mortem), região do cérebro associada aos mecanismos de recompensa neurofisiológicas.

Em seguida, foram realizados estudos funcionais em modelos animais. Em camundongos que apresentavam um consumo voluntário de álcool alto, os níveis de AUTS2 também eram elevados. Sendo assim, o estudo identificou o gene AUTS2 como potencial regulador da ingestão de álcool.

Embora a função do AUTS2 ainda não seja conhecida, sabe-se que ele está associado a uma proteína primeiramente descrita no contexto do autismo e retardo mental.  Mais recentemente, este mesmo gene foi associado ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que está relacionado a um consumo aumentado de bebidas alcoólicas. Estudos anteriores já haviam mostrado que o AUTS2 está presente em neurônios dopaminérgicos estriatais envolvidos no mecanismo de recompensa e neurônios frontocorticais GABAérgicos e glutamatérgicos, que influenciam a sensibilidade ao álcool e à impulsividade.

A descoberta desse gene com potencial função reguladora no consumo de álcool acrescenta mais uma peça na compreensão dos mecanismos genéticos que influenciam o consumo de bebidas alcoólicas.  O consumo de álcool está associado a mais de 6

O tipos de doenças e lesões e é responsável por 4% das mortes no mundo e 4,5% da carga global de doenças. A morbimortalidade associada ao uso de álcool é causada não só pela dependência, mas, em grande parte, pela quantidade e padrão de uso dessa substância.



Fonte (referência):

Schumanna G, Coin LJ, Elliott P, et al. Estudos divulgados pelo CISA revela que fatores genéticos podem influenciar no consumo nocivo de álcool. PNAS, vol. 108 (17):7119–7124. April 26, 2011.

0 Comportamento Animal

Estudos recentes apontam que os equídeos, nossos queridos cavalos, além de toda elegância, são capazes de reconhecer vozes e rostos


Descobertas interessantes no mundo dos animais são sempre bem-vindas. Um novo estudo britânico publicado na Prodeedings of the Royal Society B, acabou com o mito de que apenas os elefantes têm uma boa memória. Eles descobriram que os cavalos também são capazes de memorizar o som da voz humana e os rostos com quem têm contato frequente.

O reconhecimento de vozes e feições está na base dos comportamentos sociais. Se os animais não fossem capazes de se reconhecerem entre si, não poderiam interagir, segundo os investigadores.

Os cientistas Lean Proops e Karen McComb, da Universidade de Essex realizaram duas experiências distintas. A primeira consistiu em que duas pessoas se colocassem de pé, uma de cada lado de um único cavalo sendo que em um dos lados estaria um possível desconhecido e no outro o próprio domador. Depois de algum tempo, a voz de um dos homens foi difundida pela sala onde estavam sendo feitos os testes. E quando ouvia a voz do conhecido, o cavalo reconhecia facilmente identificando-o pelo rosto.

No entanto, quando ouvia a voz do desconhecido, o cavalo demonstrava um tipo de resistência antes de olhar para o rosto da pessoa estranha. Os investigadores observaram que quando a pessoa se localiza do lado direito, os animais tendem a reagir mais rápido.

Na segunda experiência, duas pessoas conhecidas foram colocadas em cada lado do cavalo. Os pesquisadores queriam observar se o animal seria capaz de conhecer as vozes e os respectivos rostos. Segundo a equipe dos cientistas, o sistema cognitivo de reconhecimento de vozes e rostos esta presente também nos cavalos, defendendo assim a hipótese de que essa característica não é exclusiva dos seres humanos ou dos primatas.

Os cavalos domésticos são modelos ideais para esses estudos, pois possuem uma relação mais próxima do homem, fazendo assim o reconhecimento particular do ser humano levando a essa grande capacidade funcional. Palavras do cientista Lean Proops em comunicado. Contudo, os pesquisadores querem observar se essa capacidade também está presente em cavalos selvagens. 



Fonte (referência):

OS cavalos não esquecem. 2012. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=54212&op=all>. Acesso em: 08 jun. 2012.

quarta-feira, 28 de maio de 2014

0 Filhote de zebra com burro nasce em zoológico


Esse herdeiro do cruzamento entre duas espécies diferentes — chamado de zonkey — veio à vida no dia 21 de abril em um zoo mexicano

Talvez muitos ainda não saibam, mas alguns fatos bem bizarros não são raros de ver no dia a dia do reino animal, principalmente quando o assunto é o cruzamento de raças ou espécies diferentes uma da outra.

O zonkey — também conhecido como zebrinny, zebrula ou zedonk — é um bom exemplo disso, sendo o resultado da malandragem de um burro que pulou a cerca e foi pra lua de mel com uma zebra. Além dessa combinação inusitada, também existem outros tipos de cruzamentos que não são raros de encontrar: entre zebras e cavalos ou burros e mulas.

Como tudo aconteceu


Nascido no Reynosa (zoológico localizado no estado de Tamaulipas, México) em 21 de abril desse ano, o filhotão ganhou o nome de Khumba pela equipe que cuida dos animais de lá. De acordo com alguns especialistas no assunto, sua mãe é a zebra Rayas e seu pai é o ilustre burro Ignacio (será que foi em homenagem ao Lula?), que é albino, tem os olhos azuis e mora em uma fazenda próxima do zoo.

De acordo com o zoológico, Rayas costumava dar uma volta no fim da tarde para aliviar a tensão. Porém, com o passar dos dias, notou-se que isso era motivo para ela ir ver o seu pretendido (o garanhão Ignacio) e fazer uma visita íntima em sua cela. Resultado: tiveram um lindo e raro bebê.

Sabe o que é mais impressionante nisso tudo? É que os cromossomos de uma zebra e um burro são incompatíveis. Portanto, um filhote entre eles é algo muito raro no mundo da bicharada.



Fonte (Referência):

PIRES, Rafael Godoy de Almeida. Filhote de zebra com burro nasce em zoológico. 2014. Disponível em: <http://www.megacurioso.com.br/animais/43055-filhote-zebra-burro-zoologico-mexico-reynosa.htm>. Acesso em: 28 maio 2014.

0 Tigre fémea com depressão

Num zoológico da Califórnia, um tigre fêmea teve 3 filhotes, mas como eram prematuros e doentes, morreram logo após o nascimento. O tigre fêmea começou a apresentar sinais de depressão.
Os veterinários sabiam que a perda dos filhotes era a razão do problema, e decidiram tentar arranjar outros filhotinhos para ela criar. Mas depois de indagarem junto de vários jardins zoológicos pelo país afora, não encontraram nenhum tigrezinho disponível. 
Os veterinários decidiram então tentar algo diferente: sabendo que, às vezes, uma fêmea cuida de filhotes de animais de outras espécies, procuraram outros órfãos. Os únicos órfãos que conseguiram localizar foram uns porquinhos. Enrolaram-nos em pele de tigre, e colocaram-nos junto da mamã tigre. O resultado? Vejam as fotos!






Muito fofo não é?


1 10 animais tão grandes que nem parecem de verdade... o que você acha?

Muito interessante o que o site Heavy.com fez, publicou uma lista com alguns animais mega gigantes que já foram flagrados mundo afora. Confira os melhores que achei e fiz essa lista de bichos enormes que as vezes nem parecem de verdade!

Achatina fulica
Mude qualquer concepção sobre caracóis. Na África existe essa espécie, encontrada no leste do continente, que pode chegar a medir até 30 centímetros - para efeito de comparação, os caracóis de jardins, comuns no Brasil, não chegam a ter mais do que 1 centímetro. 

Rhinella marina (antigamente chamado de Bufo marinus)
Você já deve ter ouvido a música infantil, e conhece bem o sapo-cururu. Mas ele não é nada fofinho na vida real. Além de ser extremamente tóxico, essa espécie encontrada na Austrália tem quase um metro e é considerado um perigo para a fauna local. 

Andrias davidianus
Na China há essa espécie de salamandra que, além de ser a maior do mundo, também é bem assustadora. Ela tem 1,80m, 25kg e é quase cega.

Deinacrida heteracantha
Acostumado a ver grilos comendo apenas plantinhas pequenas? Esqueça! Essa espécie que nasce apenas em uma pequena ilha da Nova Zelândia é grande o suficiente para devotar uma cenoura inteira rapidamente.

Crocodylidae
Parece um dinossauro, mas é "só" um crocodilo encontrado nos EUA que mede nada menos do que 6,40m. Isso mesmo, um crocodilo maior que muito carro por aí - e o detalhe é que ele foi caçado por um homem apenas. Confira a matéria!

Oryctolagus cuniculus

Olhe bem para essa foto e perceba: não são dois cachorros. Do lado esquerdo está um coelho da raça Flamish, que incrivelmente come três quilos de vegetais por dia. A espécie é comum na Patagônia, Argentina.

Suidae
Uma tonelada. Não, você não viu errado. Esse porco encontrado nos Estados Unidos é claramente o maior do mundo e, bem, muitas pessoas só olham para ele como bacon para uma vida inteira. Agora, a surpresa. Aquele menino ali na foto, que caçou o animal, tem 11 anos. Isso mesmo, surpreendente, não?

Cricetomys gambianus

Está pensando que é um cão dormindo? Errado! Esse foi um rato encontrado e morto em uma loja de tênis no Bronx, nos Estados Unidos. Com mais de um metro de comprimento, está entre os maiores já vistos.

Lithobates catesbeianus
Essa espécie de rã encontrada em Camarões é realmente enorme: tem mais de um metro de comprimento e tem uma dieta bem balanceada, com pássaros e cobras inclusos no cardápio.

Canis lupus familiaris
Esse é George ao lado de seu dono. Nem precisávamos dizer que ele pesa 111 quilos para que seu tamanho ficasse claro. O cão está no livro dos recordes como o maior de sua espécie e consome nada menos do que 50 quilos de ração canina por mês.


E aí, SURPREENDENTE né?

segunda-feira, 26 de maio de 2014

1 Cana-de-açúcar poderá ganhar programa de melhoramento genético

Agência FAPESP – Os esforços dos últimos anos no Brasil para conhecer melhor o genoma da cana-de-açúcar poderão dar origem, em um futuro próximo, a um programa de melhoramento genético da planta, a exemplo dos já existentes hoje para trigo e milho. 


A avaliação foi feita por Marie-Anne Van Sluys, professora do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), durante uma mesa-redonda sobre “Desenvolvimentos recentes e desafios da pesquisa em bioenergia no Brasil”, realizada na semana passada durante a 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Recife (PE). 

O encontro também teve a participação de Heitor Cantarella, pesquisador do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e de Antonio José de Almeida Meirelles, professor da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O evento foi coordenado por Glaucia Mendes de Souza, professora do Instituto de Química da USP e membro da coordenação do BIOEN. 

De acordo com dados apresentados por Van Sluys, entre 1961 e 2010 o trigo e o milho – plantas consideradas “primas-irmãs” da cana-de-açúcar – tiveram aumento da eficiência de produção por hectare muito superior ao registrado pela cana. 

Uma das possíveis respostas para justificar essa diferença, de acordo com a pesquisadora, é que o trigo e o milho contam com programas de melhoramento assistido pela genômica que ainda não existem para a cana-de-açúcar. Isso porque ainda se sabe pouco sobre o genoma da gramínea. 

“A construção de um banco de dados contendo informações do genoma da cana-de-açúcar vai nos permitir fazer uma abordagem um pouco mais integrada e chegar a um ponto de melhoramento genético que é utilizado hoje em milho e trigo. No caso da cana, estamos montando essa base de dados a partir do zero”, afirmou. 

Programas de pesquisa 


Segundo Van Sluys, para desenvolver biotecnologia voltada ao melhoramento de cultivares é preciso conhecer e entender muito bem a estrutura biológica da planta. No caso da cana-de-açúcar, esse desafio é ainda maior. 

A planta cultivada hoje é uma variedade híbrida, derivada do cruzamento da espécie Saccharum officinarum com a Saccharum espontaneum, na qual a primeira contribui com a produção de açúcar e a segunda confere à planta vigor e resistência a uma série de pragas agrícolas. 

Diferentemente do que ocorre com os seres humanos, em que a contribuição genética do pai e da mãe para seus filhos é igual – cada um contribui com 50% dos genes –, no caso da cana-de-açúcar a participação genética das duas espécies é desigual. A Saccharum officinarum contribui com, aproximadamente, 75% do genoma da planta, enquanto a Saccharum espontaneum participa com os 25% restantes. 

Além disso, ainda em comparação com os humanos, que têm 23 pares de cromossomos, a planta possui muito mais, além de ter muito mais sequências repetidas de genes em cada um deles. “Os seres humanos têm em torno de 50% do genoma repetido, enquanto a cana-de-açúcar é capaz de ter muito mais, talvez não tanto quanto algumas variedades de milho, entre as quais esse percentual pode ser de 80%”, disse Van Sluys. 

O fato de ser um organismo híbrido, ter um genoma muito grande e com muitas repetições, torna o melhoramento genético da cana-de-açúcar muito desafiador, ressaltou a pesquisadora. 

“Existem várias ações realizadas no Brasil, de pouco mais de dez anos para cá, que estão nos ajudando a estabelecer uma base para tornar a biotecnologia eficiente para aumentar a produtividade da cana-de-açúcar”, disse. 

Entre essas ações estão o Programa BIOEN da FAPESP e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – um dos INCTs apoiados pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no Estado de São Paulo. 

“Queremos identificar novos caminhos para a manipulação genética do metabolismo de energia de plantas cultivadas, a exemplo do que se faz com o milho”, disse Van Sluys. Nos últimos anos, os pesquisadores participantes do programa começaram a desenvolver um banco de dados para armazenamento de informações do genoma da cana-de-açúcar. 

Quando for concluído, o banco de dados genéticos da cana-de-açúcar possibilitará, eventualmente, incluir a transgenia (manipulação genética) nos programas de melhoramento da planta. 

“A partir de ferramentas genômicas que estão sendo construídas, da parceria com os programas de melhoramento e da compreensão da fisiologia da cana-de-açúcar, estamos começando a ser capazes de formar redes gênicas e distinguir, por exemplo, genes de Saccharum officinarum dos de Saccharum espontaneum nas variedades cultivadas”, disse Van Sluys.


Fonte(Referências):  

ALISSON, Elton. Cana-de-açúcar poderá ganhar programa de melhoramento genético. 2013. Texto publicado na página da Agência FAPESP. Disponível em: <http://agencia.fapesp.br/17621>. Acesso em: 08 out. 2013.

1 Leonardo da Vinci, o desbravador do corpo humano

Artista italiano usou a matemática e o desenho para entender o funcionamento da “máquina” humana 


Viaje cinco séculos no tempo. Esqueça a internet, a televisão, o cinema e a fotografia. Houve uma época em que o homem teve que recorrer ao desenho para retratar sua viagem de descoberta rumo ao interior do corpo humano. Os portugueses nem haviam chegado ao Brasil quando Leonardo Da Vinci (1452-1519) começou um dos mais impressionantes levantamentos de anatomia para entender o funcionamento de órgãos, do esqueleto, dos músculos e tendões. Esta é a história pouco conhecida do artista-anatomista italiano – sim, além de pintor, escultor, músico, cientista, arquiteto, engenheiro e inventor, ele também atuou na medicina. 

Ao longo de 15 anos (de 1498 a 1513), Leonardo desenhou órgãos e elementos dos sistemas anatomofuncionais do corpo humano em um estudo que começou pela leitura das obras de autores da medicina pré-renascentista, como Galeno de Pérgamo (129-200), Mondino dei Luzzi (1270-1326) e Avicena (980-1037). Ele também participou de dissecações do corpo humano e de diversos animais. Porém, jamais terminou e publicou a obra que, segundo pesquisadores, poderia ter revolucionado a medicina mais de 20 anos antes que o belga Andreas Vesalius, considerado o “Pai da Anatomia”, publicasse seu livro “De Humani Corporis Fabrica”, em 1543, obra que marca a fase inicial dos estudos modernos sobre anatomia. 

Para entender as implicações e a importância dos estudos anatômicos realizados durante o Renascimento, basta imaginar que, por quase mil anos, questões religiosas e culturais impediram o homem de explorar o próprio corpo e de entender o funcionamento da máquina humana – as dissecações para a observação direta do corpo humano não eram permitidas nem adotadas pelas escolas de medicina medievais. É a história desse período e o contato com as imagens de mais de 1200 desenhos anatômicos produzidos pelo próprio Leonardo da Vinci que tornam interessante o livro “Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci” (Leonardo on the Human Body), publicado pela Editora Unicamp (2012). 

“Com seus estudos anatômicos, Leonardo da Vinci ultrapassou os conhecimentos dos artistas de sua época, pois, ao observar o interior do corpo humano, viu de perto as características dos seus músculos e dos seus órgãos vitais, e mais ainda, tentou e conseguiu entender e dar explicações lógicas sobre os seus movimentos, sobre as suas ações e sobre as suas funções”, explica o cirurgião do coração Pedro Carlos Piantino Lemos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que traduziu o livro do inglês para o português, em parceria com a tradutora Maria Cristina Vilhena Carnevale. 

Leonardo é tido como uma exceção entre os artistas que se propuseram a explorar a anatomia humana. Partiu dele, como destaca o professor da USP, a primeira descrição, observada em uma dissecação, de uma aterosclerose – o entupimento de uma artéria em decorrência do acúmulo de gordura. 

A publicação em português dos Cadernos Anatômicos de Leonardo é resultado de dez anos de trabalho dos tradutores brasileiros. São 520 páginas e informações que explicam detalhadamente o lado anatomista do gênio italiano. Como acréscimos, Lemos criou marcações que ajudam o leitor a identificar o desenho ao comentário a ele referente. Os tradutores também inseriram termos médicos atuais que ajudam na localização das coisas descritas por Leonardo – na época em que ele aventurou-se pelo corpo humano, boa parte do organismo humano ainda não tinha nome. 

INOVADOR 


No Renascimento, artistas como Leonardo aproximaram-se de médicos-anatomistas para retratar melhor a forma humana em pinturas e esculturas. Eles foram chamados de “artistas-anatomistas”, segundo Charles O’Malley (Universidade de Stanford) e J.B. Saunders (Universidade da Califórnia), que organizaram e traduziram, do italiano para o inglês, os textos de anatomia de Leonardo da Vinci. “Embora fosse fundamentalmente um artista, [Leonardo] considerava a anatomia como sendo algo mais que simples coadjuvante da arte. Essa atitude o levou a prosseguir com seus estudos, de tal maneira que seus conhecimentos anatômicos ultrapassaram aqueles que seriam suficientes para desempenhar sua arte”, afirmam no livro. 

De fato, os desenhos desse estudo de Leornardo são anotações, um roteiro de pontos que seriam ainda detalhados e esclarecidos para a publicação de um tratado de anatomia. Os detalhes, os cortes e os ângulos das figuras impressionam pelo realismo e respeito pela proporcionalidade que existe no corpo humano. A influência da engenharia e da matemática é visível: roldanas, formas geométricas e engrenagens estão presentes nas gravuras, ao lado de estruturas ósseas, de conjuntos de tendões e músculos, indícios de que ele recorreu a cálculos para interpretar os movimentos e a funcionalidade dos elementos anatômicos que observou. 

De sua experiência em outras áreas, Leonardo trouxe diversas inovações para o estudo da anatomia, dentre elas a utilização da injeção de cera derretida nos ventrículos do cérebro de um cadáver para facilitar a sua dissecação. 

Para a época, o desenho de Leonardo era um avanço surpreendente diante das caricatas e simples ilustrações encontradas, por exemplo, na obra de Mondino dei Luzzi, denominada “Anothomia”. Havia um menosprezo do valor pedagógico da imagem nos estudos medievais de anatomia. Uma imagem do Mondino mostra, ao fundo, um professor lendo um texto de anatomia, escrito em latim e sem figuras, enquanto seus alunos, à sua frente, auxiliados por um tutor, dissecam um corpo humano. No Renascimento, essa dinâmica de aprendizado foi rompida e os estudos de anatomia nunca mais foram os mesmos, pois o próprio professor passou a mostrar diretamente no cadáver os aspectos dos elementos anatômicos. 

“O livro [de Leonardo] é uma contribuição fundamental para a compreensão do desenho como meio de conhecimento, uma ferramenta de construção do pensamento visual”, avalia a professora Lygia Arcuri Eluf, do Instituto de Artes (IA) da Unicamp. “Leonardo da Vinci é um grande precursor de um período bastante interessante da história do mundo ocidental, conhecido no campo das artes como ‘maneirismo’, no qual parece que todas as possibilidades de um mundo novo se abrem para os artistas.” 

Com a morte do artista, discípulo herda desenhos 


Apesar do brilhantismo da obra de anatomia de Leonardo da Vinci, o trabalho dele desapareceu durante vários séculos até ser encontrado e publicado. Após a morte do artista-anatomista, em 1519, todos os desenhos e textos que ele produziu foram herdados por seu discípulo Francesco Melzi, que os guardou até 1570. A partir daí, os caminhos percorridos pelas folhas dos diversos cadernos de Leonardo, particularmente as folhas dos seus estudos de anatomia, são pouco conhecidos. Em 1690, conforme pesquisas dos tradutores americanos, há evidências de que elas já estavam na Biblioteca Real de Windsor, na Inglaterra, como parte da coleção real. 

O primeiro esforço para levar os desenhos e os textos anatômicos para o conhecimento público ocorreu em 1898, com a publicação de alguns deles por Theodore Sabachnikoff, voltada mais para a curiosidade dos leitores e para o fato de ser uma novidade e menos para a importância do estudo realizado. Apenas no século passado, houve um trabalho adequado para organizar os desenhos e traduzir os textos, o que resultou na edição do livro de O’Malley e Saunders – o original da tradução portuguesa publicada pela Editora da Unicamp e pela Ateliê Editora. 

No Renascimento, desenho mudou e ajudou a ciência 


Até o final da Idade Média, o desenho apresentava figuras que deveriam ser adoradas, a exemplo de outras culturas do passado, mas o Renascimento alterou esse caráter e permitiu que os artistas representassem o mundo, segundo a professora Lygia Arcuri Eluf, do IA. 

Além disso, da era medieval para o Renascimento, os artistas tiveram à sua disposição a descoberta de materiais que ajudaram a modernizar o desenho até então realizado, tais como pedras para litogravuras de diferentes gradações, além da criação de ferramentas de escrita, como penas de metais. “Sem esses materiais, o desenho não aconteceria”, explica a professora, especialista em desenhos e gravuras. 
Para ela, o papel do desenho nesse período era o de registrar como os artistas entendiam e viam o mundo por meio de investigação de toda a natureza. Era como se o homem, após um período de estagnação durante a Idade Média, iniciasse um processo de redescoberta do mundo, a exemplo das múltiplas áreas de interesse de Leonardo da Vinci, que se envolveu com pintura, escultura, música, ciência, arquitetura, engenharia e anatomia. 

Nesse período, o valor pedagógico do desenho ganhou prestígio, principalmente com o surgimento da imprensa e do livro, segundo o médico Pedro Carlos Piantino Lemos, tradutor da obra de Leonardo da Vinci para o português. Até então, os médicos recusavam o uso de qualquer coisa que pudesse distrair a atenção durante a leitura dos textos. “Na Idade Média, não se levava em conta a figura, apenas o texto puro”, afirma o professor da Universidade de São Paulo (USP). 


Dá uma conferida nessa obra espetacular: 


Obra: “Os Cadernos Anatômicos de Leonardo da Vinci” 
Autor: Leonardo da Vinci [Charles D. O’Malley e J. B. de C. M. Saunders (trad.); Pedro Carlos Piantino Lemos e Maria Cristina Vilhena Carnevale (trad.)] 
Editoras: Unicamp/Ateliê 
Páginas: 520 
Preço: R$ 280,00


Fonte (Referências): 

SILVA, Alessandro. Leonardo da Vinci, o desbravador do corpo humano. 2013. Texto publicado na página do JORNAL DA UNICAMP. Disponível em: <http://www.unicamp.br/unicamp/ju/568/leonardo-da-vinci-o-desbravador-do-corpo-humano>. Acesso em: 20 set. 2013.
 

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